1. Lâmpada acesa para o encontro com Cristo

Alexandrina Maria (1904-1955), na Páscoa eterna há 68 anos, continua a ser uma lâmpada acesa na vida da Igreja e para quantos peregrinam a Balasar. Na sua autobiografia podemos ler: «Ó meu querido Jesus, eu me consagro toda a vós. Abri-me de par em paro Vosso Santíssimo Coração. Deixai que eu entre nesse Coração bendito, nessa fornalha ardente, nesse fogo abrasador» (…) «Fazei-me pura [Jesus], fazei-me santa, dai-me amor que me queime e que me mate. Eu quero morrer de amor!» (…) «Ó Jesus, nem um só sacrário fique no mundo, nem um só lugar onde habitais sacramentado sem que hoje e desde hoje para sempre em cada momento da minha vida eu esteja lá sempre a dizer: Jesus, eu amo-Vos! Jesus eu sou toda Vossa! Sou a vossa vítima, a vítima da Eucaristia, a lampadazinha das vossas prisões de amor, a sentinela dos vossos sacrários» (Autobiografia).

Na vida da Alexandrina constata-se que: «O pavio da lamparina é a fé, a chama é a caridade, e o azeite, do qual a chama se alimenta, é abnegação» (Th. Merton).

Amar, servir e reparar foi o seu programa de vida integral. Com efeito, «Apenas na adoração, só diante do Senhor, é que recuperamos o gosto e a paixão pela evangelização. E, curiosamente, perdemos a oração de adoração; e todos, sacerdotes, bispos, consagradas, consagrados têm de a recuperar: recuperar aquele permanecer em silêncio diante do Senhor» (Papa Francisco, Vésperas em Lisboa, 2 agosto 2023).

2… As revelaste aos pequeninos

Escutamos uma das mais belas orações de Jesus. Este importante louvor contém três afirmações decisivas: só o Filho revela o verdadeiro rosto do Pai; a revelação do mistério abre-se aos pequeninos e fecha-se aos grandes (sábios, inteligentes…); todos os cansados e oprimidos podem encontrar descanso em Cristo.

A Beata Alexandrina Maria, também conhecida no seu tempo como “a doentinha de Balasar” é uma pessoa escolhida por Deus para mostrar os mistérios de Cristo. Assim, estamos convidados a fixar os nossos olhos em Jesus Cristo, a verdadeira vida eterna. Com efeito, «A vida eterna é esta: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo» (Jo 17, 3).

Esta atitude é expressa no dia 19 de outubro de 1947, Alexandrina Maria da Costa ao escrever: «No céu cantarei os Teus louvores eternamente ó Mãe. Na terra quero só sofrer e amar. Tudo passa, tudo morre, só a graça de Jesus nos faz viver eternamente».

3“mulher eucarística”

A oração coleta da Missa da memória do dies natalis de Alexandrina Maria, diz que o Pai fez: «resplandecer na Igreja o exemplo da vida da Beata Alexandrina, intimamente ligada à paixão, para que em todo o mundo se desenvolvesse o culto eucarístico e a devoção ao Coração Imaculado de Maria». Ao mesmo tempo, a Igreja em oração pede a Deus misericordioso: «concedei-nos que, por sua intercessão nos tornemos morada do Espírito Santo e testemunhas autênticas do Vosso amor».

A Eucaristia e o Coração Imaculado de Maria estão intimamente ligados. A Virgem Santa Maria foi até chamada de “mulher eucarística” por São João Paulo II. Este nome pode ser igualmente atribuído à Beata Alexandrina Maria.

Não será sem sentido a memória da beata Alexandrina ocorrer no dia da última aparição em Fátima.

A Eucaristia, ao mesmo tempo que torna presente a Paixão e a Ressurreição, é um prolongamento da encarnação, constituindo a memória de um todo, ao que designamos de mistério pascal de Cristo. Se o binómio Igreja-Eucaristia é indivisível, é necessário encontrar a mesma relação entre Maria-Eucaristia nas nossas celebrações litúrgicas.

Se quisermos redescobrir a relação íntima entre a Igreja e a Eucaristia, «não podemos esquecer Maria, Mãe e modelo da Igreja, e considerar Maria, a mulher “eucarística” na totalidade da sua vida, embora à primeira vista, o Evangelho nada diz a tal respeito. A narração da instituição, na noite de Quinta-feira Santa, não fala de Maria. Mas sabe-se que Ela estava presente no meio dos Apóstolos, quando, “unidos pelo mesmo sentimento, se entregavam assiduamente à oração” (At 1,14), na primeira comunidade que se reuniu depois da Ascensão à espera do Pentecostes. E não podia certamente deixar de estar presente, nas celebrações eucarísticas, no meio dos fiéis da primeira geração cristã, que eram assíduos à “fração do pão” (At 2,42)» (S. João Paulo II).

O santuário remete-nos ao ‘lugar santo’ como sítio, espaço que com intensidade particular manifesta o sagrado. O renascer atual do santuário não se centra tanto no santuário urbano, mas mais fora da cidade, no cimo dos montes, vales, lugares solitários e agrestes, nos ermos. Este lugar funciona como espaço de liberdade, pois leva à fuga da vida de todos os dias. É lugar do ‘Outro possível’ onde intervém o ‘Outro Invisível’. O santuário tem a virtualidade de ser resposta às contrariedades do quotidiano; aparece como algo de novidade oferecido a todos, aberto aos anseios de todos. O povo tem respeito profundo pelos santuários. Eles são património cultural e espiritual a requerer uma pastoral mais cuidada.

O coração pulsante da missão é a oração pessoal e comunitária, sobretudo a Liturgia da Igreja. O coração da oração é a Eucaristia, o sacramento dos sacramentos. «Sim, a Eucaristia é o sacramento por excelência do louvor ou da ação de graças pelos “mirabilia Dei” consignados na Escritura. (…) «Para dizer simplesmente, rezar diante do Santíssimo Sacramento, é ruminar o mistério do amor salvador de Deus tal como ele se revelou nas Escrituras» (L-M. Chauvet).

O 5.º Congresso Eucarístico Nacional vai ter lugar em Braga de 31 de maio a 2 de junho de 2024, no centenário do primeiro Congresso realizado em 1924, e cujo tema será: «Partilhar o Pão, alimentar a Esperança. “Reconheceram-n’O ao partir o Pão” (Lc 24,35)». Este grande encontro eclesial pretende que nos voltemos para o essencial, para a fonte e o vértice da ação da Igreja, que é a Eucaristia.

Em Braga, no primeiro Congresso Eucarístico Nacional, de 2 a 6 de junho de 1924, cruzaram-se seis vidas de santidade, cujos processos de canonização estão em curso: Beata Alexandrina Costa; Frei Bernardo de Vasconcelos, OSB; Padre Abílio Correia; Alzira Sobrinho (Irmã São João, SFRJS); D. Manuel Mendes da Conceição Santos e D. João de Oliveira Matos.

Este partir do pão é o próprio Cristo que é partido no pão da Eucaristia, da caridade, no encontro com os pobres, os mais vulneráveis, mais frágeis, com todas as necessidades do mundo em que vivemos para que tenhamos este sentido de plenitude e sejamos capazes, à luz das escrituras, reconhecê-los em todas as pessoas e situações da comunidade neste tempo tão delicado.

+ José Manuel Cordeiro

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